A fonoaudiologia é uma área da saúde recente e por isso ainda é pouco conhecida pelas pessoas. E assim, é muito comum, ao explicarmos que cursamos fonoaudiologia para familiares e amigos, que eles nos respondam com a pergunta “fono o que?”. E depois da estranheza inicial, sempre aparecem as perguntas: “Fonoaudiólogo ensina criança a falar, né?”, “Tem que fazer medicina primeiro?”. E Bom, não é bem assim.
A fonoaudiologia é uma profissão ligada à saúde, e o fonoaudiólogo é responsável por cuidar de tudo que envolve a comunicação humana falada ou escrita. Ele pode trabalhar com linguagem, voz, fala, audição e alterações dos músculos e articulações da cabeça e do pescoço, sendo também responsável por cuidar de problemas relacionados à dificuldade de aprendizagem e problemas que envolvem as funções de mastigar e engolir. Assim, o fonoaudiólogo pode prestar serviços de reabilitação, prevenção e promoção de saúde, dando orientações aos pacientes e fazendo intervenções para melhorar as estruturas e funções de comunicação falada, expressiva e escrita.
Apesar de estar presente em vários lugares, o fato de ser uma área nova e que poucas pessoas conhecem resulta em várias dúvidas, mitos e equívocos sobre a fonoaudiologia e o fonoaudiólogo, mas que podem ser esclarecidas facilmente. Vamos lá?
1. A Fonoaudiologia é uma área da medicina [MITO]
Ao contrário do que muitos pensam, o fonoaudiólogo não é um médico, e a fonoaudiologia não é uma especialização. Não é necessário cursar medicina para se tornar um fonoaudiólogo, é preciso fazer o curso de fonoaudiologia na faculdade que dura aproximadamente 4 anos e é oferecido em instituições públicas e privadas.
2. Crianças brincam nas consultas de fono [VERDADE]
Porém, toda brincadeira realizada durante a sessão de fonoaudiologia tem algum propósito, seja para avaliar as condições gerais da criança (como ela se comunica e como ela interage), para estimular o desenvolvimento na aquisição da fala, como estratégia para favorecer os exercícios de movimentação do rosto, o desenvolvimento da escrita ou o desenvolvimento de linguagem, dentre outros. Além disso, o brincar é de extrema importância para o desenvolvimento de qualquer criança, principalmente o faz-de-conta que requer imaginação e criatividade.
3. Fono só ensina criança a falar [MITO]
O fonoaudiólogo trabalha em todas as faixas de idade e em diversas questões que dizem respeito à comunicação e à saúde, não somente a fala. Todas as crianças normalmente aprendem a falar com a exposição a uma língua durante a infância quando está tudo ok com todos os processos do desenvolvimento geral e estruturas envolvidas no processo da fala.
O fonoaudiólogo, então, não ensina a falar, ele é o profissional que auxilia quando há algum atraso, dificuldade ou trocas nessa fala, estimulando as crianças, adolescentes e adultos a desenvolverem sua língua corretamente e a se expressarem através da linguagem. Ainda assim, o estímulo de desenvolvimento da fala é apenas uma das vertentes de atuação do fonoaudiólogo.
4. O fonoaudiólogo só trabalha em clínicas e sozinho [MITO]
O fonoaudiólogo pode trabalhar em diversos lugares além das clínicas como: centros de saúde, ambulatórios de especialidades, hospitais, maternidades, consultórios, em atendimento domiciliar, asilos, creches, berçários, escolas, empresas, rádio, teatro e televisão! Além disso, o fonoaudiólogo pode trabalhar junto com outros profissionais da saúde como médicos que cuidam da cabeça e pescoço, dentistas, nutricionistas, fisioterapeutas, enfermeiros e psicólogos, além de manter uma relação próxima com a área da educação. Tudo em busca dos melhores resultados em tratamentos para os pacientes.
5. Existem muitas áreas da fonoaudiologia para dar conta de tudo que o fonoaudiólogo pode fazer [VERDADE]
O fonoaudiólogo pode trabalhar em muita coisa, e para organizar isso existem as áreas de especialidades que separam as funções e tratamentos para que todos os pacientes tenham o melhor atendimento voltado para sua necessidade. Essas áreas, atualmente 11 no total, são: [clique na imagem para expandir]:
6. A fonoaudiologia é igual em todos os lugares do mundo [MITO]
A fonoaudiologia existe em muitos outros países além do Brasil e possui suas singularidades em cada um deles, e para ajudar a esclarecer essas diferenças, aqui citaremos alguns.
Nos Estados Unidos, o estudante deve optar por estudar audiologia ou fonoterapia, assim quem optar pela audiologia irá atuar nos processos que envolvam a audição, enquanto quem estudar fonoterapia, poderá atuar nas demais áreas que apresentamos. Além disso, em fonoterapia, os profissionais devem obter título de mestre para exercerem a profissão de forma livre, sendo que antes disso podem trabalhar em escolas e somente com supervisão. Já os audiologistas precisam de diploma de doutorado para exercerem a profissão.
Assim como nos Estados Unidos, no Canadá a fonoaudiologia é divida em duas profissões distintas, a audiologia e a patologia da linguagem e da fala, sendo que a profissão ainda é variada de acordo com cada estado do país, sendo que em Toronto, por exemplo, a fonoaudiologia só está disponível em nível de mestrado e é obrigatório a participação no conselho regional.
Na Inglaterra, o mesmo padrão acontece, a fonoaudiologia é dividida em duas profissões distintas: A speech & language therapy (terapia da fala e da linguagem), que não aceita profissionais de outros países para trabalhar nessa área, e a audiologia que é desde 2002 um curso universitário e que valoriza o diploma brasileiro em seus territórios.
Nos países sul americanos, por sua vez, conseguimos ver que a profissão se parece mais com a fonoaudiologia do Brasil, porque é um curso universitário e unificado, não tendo as separações em duas profissões. Na Colômbia e no Chile, por exemplo, o curso tem uma duração maior de 5 anos, mas as especialidades são muito parecidas com as do Brasil.
7. Existem filmes que mostram a atuação de fonoaudiólogos em suas histórias [VERDADE]
Pra quem chegou com a leitura até aqui e tem interesse ver mais coisas sobre a profissão, existem vários filmes que envolvem assuntos de interesse na fonoaudiologia e que podem ser uma boa pedida para conhecer mais o trabalho e a importância do fonoaudiólogo em diversos contextos.
Nossas sugestões são três: os filmes “O Discurso do Rei” (gagueira) “A Teoria de Tudo” (paralisia, comunicação alternativa) e o documentário “My beautiful broken brain” (comprometimento neurológico após derrame). Mesmo não sendo o foco principal das histórias, o papel do fonoaudiólogo é presente nas três, seja realizando terapia e trabalhando na comunicação verbal, trabalhando com questões de alimentação e comunicação alternativa ou empenhado em realizar a reabilitação pós trauma, mostrando a importância da fonoaudiologia em diferentes contextos.
E aí, agora que você sabe um pouco mais sobre a fonoaudiologia, que tal compartilhar as informações com seus amigos e familiares? Ajude a tornar esse profissional da saúde que é tão importante a ser mais reconhecido, como figura de uma profissão independente com várias competências e habilidades, e que mesmo depois de ser perguntado “Fono o que?” repete orgulhoso: Fonoaudiólogo.
Veja também um infográfico sobre o fonoaudiólogo clicando aqui.
Texto de: Beatriz Thedim, Luana Mendes e Ingrid Souza
Fonoaudiólogas formadas na Unicamp
REFERÊNCIAS:
Audiologista Brasileira em Londres. Brasileiras pelo mundo. Disponível em: <http://www.brasileiraspelomundo.com/audiologista-brasileira-em-londres-511920367>. Acesso em: 30 Jan 2018.
Brandão, Lenisa et. al. Neuropsicologia como especialidade da Fonoaudiologia: Consenso de Fonoaudiólogos Brasileiros. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/26732>. Acesso em: 01 Fev 2018.
Fonoaudiologia – Profissões regulamentadas no Canadá.Immi-Canadá. Disponível em: < https://www.immi-canada.com/fonoaudiologia-profissoes-regulamentadas-no-canada-serie/> Acesso em: 01 Fev 2018.
O que é Fonoaudiologia. Conselho Regional de Fonoaudiologia – 2a Região São Paulo. Disponível em: <http://www.fonosp.org.br/crfa-2a-regiao/fonoaudiologia/o-que-e-a-fonoaudiologia/>. Acesso em: 01 Fev 2018.
Fonte: Thiago Oliveira da Motta Sampaio | www.blogs.unicamp.br